A Olimpíada do Rio ajudou desmatadores na Amazônia?

A Olimpíada do Rio ajudou desmatadores na Amazônia?

Foto: Rodrigo Soldon 2/Flickr

Um fator prosaico pode ter ajudado os desmatadores da Amazônia a driblar o governo ao longo do último ano: os Jogos Olímpicos do Rio. O megaevento de 2016 passado drenou os 96 agentes da Força Nacional que desde o ano anterior davam apoio às operações de fiscalização do Ibama na floresta. Os policiais saíram para fazer a segurança da cidade olímpica e nunca mais voltaram.

De acordo com o Ministério da Justiça, a última operação contra o desmatamento com participação da Força Nacional aconteceu em julho de 2016, em Juína (MT). De lá para cá, segundo o Ibama, “inúmeras” requisições de apoio da força foram feitas, todas sem resposta.

A retirada dos agentes ocorreu em descumprimento a um convênio firmado em janeiro de 2015 entre o Ibama e a Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça. Pelo acordo, o Ibama repassaria R$ 5 milhões por ano ao MJ para bancar viaturas da Força Nacional para a fiscalização, em troca da presença do efetivo em campo em áreas críticas sempre que solicitado.

Além do convênio com o Ibama, a FN aprovou também em janeiro de 2015 um projeto no Fundo Amazônia para a criação de uma Companhia de Operações Ambientais. Receberia por isso R$ 30 milhões em dois anos.

A Olimpíada, em agosto, causou a desmobilização do efetivo, com um atrativo irresistível: um decreto assinado pelo então vice-presidente Michel Temer estabelecia que as diárias pagas aos policiais que fossem deslocados para fazer a segurança dos Jogos no Rio seriam 150% maiores que as normais (recebidas, por exemplo, nos deslocamentos para a Amazônia).

A tropa seguiu desmobilizada no segundo semestre. E, neste ano, o Ministério da Justiça foi apanhado pelo corte de 42% no orçamento do governo federal, e ficou sem dinheiro.

O plano de usar o Fundo Amazônia nas operações ambientais não decolou: apenas R$ 855 mil foram efetivamente gastos da bolada de R$ 30 milhões aprovada. O projeto expirou e, agora, o Ministério da Justiça depende da anuência do Ibama para submeter um novo pedido ao BNDES, que gerencia o fundo. O órgão ambiental, por sua vez, quer ver a tropa na rua antes de dar o sinal verde.

Segundo informou o Ibama, há negociações em curso com o Ministério da Justiça para a retomada das operações conjuntas. O alvo prioritário é a região de Novo Progresso, na BR-163, no sudeste do Pará, que se converteu em um barril de pólvora depois que Temer vetou a cessão de 486 mil hectares da Floresta Nacional do Jamanxim a pessoas que ocupam a área.

Cegonha com 8 caminhonetes do Ibama foram queimadas em Cachoeira da Serra, no Pará. Foto: Divulgação.
Cegonha com 8 caminhonetes do Ibama foram queimadas em Cachoeira da Serra, no Pará. Foto: Divulgação.

Operações do Ibama, aliadas ao veto presidencial – interpretado pelos locais como uma manobra do ministro Sarney Filho (Meio Ambiente) para adiar a redução da área protegida –, causaram revolta na população de Novo Progresso e outros municípios da região. Os moradores iniciaram uma série de bloqueios da BR-163. Em 7 de julho, uma carreta com oito caminhonetes novas destinadas à fiscalização do Ibama foi incendiada por manifestantes.

O Ibama qualificou a ação de “atentado” e, em resposta, bloqueou todas as serrarias da BR-163 e chamou reforços da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal para a região. O diretor de Fiscalização do órgão ambiental, Luciano Evaristo, disse esperar o retorno da Força Nacional o quanto antes.

No período subsequente à retirada dos policiais da Força, o desmatamento se manteve estável, mas num patamar elevado.

A devastação é medida de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Entre agosto de 2015 e julho de 2016 (o que é considerado a taxa de desmatamento de 2016), a devastação subiu 29% em comparação com o mesmo período anterior. Entre agosto e dezembro de 2016, sem a Força Nacional, o número de alertas de desmatamento registrados pelo sistema Deter, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostram um aumento discreto, de 6% em relação a agosto-dezembro de 2015.

A taxa oficial do ano de 2017, englobando o período de agosto de 2016 a julho deste ano, será conhecida provavelmente no mês que vem. O governo aposta numa queda. Medições feitas pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) no período de agosto a maio indicam uma queda de 15% na taxa anual, insuficiente para compensar o aumento do ano anterior (os sistemas SAD, do Imazon, e Deter, do Inpe, não são comparáveis entre si, mas ambos servem para indicar a tendência do desmatamento, cuja taxa oficial é dada por um terceiro sistema, o Prodes). Pior ainda, como grande parte da floresta esteve coberta por nuvens no período de chuva, espera-se uma taxa elevada em junho, último mês da medição anual.

A persistência do desmatamento, cuja velocidade cresceu 60% nos últimos dois anos após uma década de trajetória descendente, fez a Noruega cortar pela metade os repasses ao Fundo Amazônia, que ajuda a bancar ações de conservação da floresta.

O corte, confirmado publicamente pelo governo norueguês durante a visita do presidente Michel Temer a Oslo, em junho, foi um vexame internacional para o Brasil e fez o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV-MA), convocar uma entrevista coletiva no retorno da viagem para dizer que toda a alta no desmatamento fora culpa do governo Dilma.

A ex-ministra Izabella Teixeira se defendeu, dizendo em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo que nunca cortou recursos da fiscalização e que o desmatamento em 2015 subiu porque 2014 era ano eleitoral, mas que em 2016 a troca de governo pode ter tido um impacto. “Pode ter passado um sinal de que podia desmatar que depois consolidava.”

logo Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

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